sexta-feira, 6 de março de 2009
Cartas e cartões
Por incrível que pareça, tenho saudades dos tempos que se usava escrever cartas.
Quando eu era adolescente (faz algum tempo, mas não muito... rsrsrs...) eu tinha um montão de correspondentes. Eu ficava sentada no portão aguardando o carteiro passar. Era tanto envelope que nem sei. Cheguei a ter 22 correspondentes nos melhores dias...
Eu pegava aqueles portais que transportavam para mundos longínquos e espalhava-os em cima da cama. Antes de abrir eu fazia uma pequena pausa e saboreava aquele momento... Quem vai ser o primeiro de hoje? De quem eu preciso saber a resposta com mais urgência?
Era uma sensação incrível sentir-se presente na vida de outras pessoas, com costumes e vidas tão diferentes. Eu sabia que ali dentro daquele envelope poderia ter apenas algumas poucas frases, mas sabia também que elas tinham sido escritas exclusivamente para mim.
Nada de copiar e colar, nem de encaminhar para a sua lista de contatos. Só caneta e papel. De mim para vc, resposta de vc para mim. Simples assim: se vc respondeu é porque se importa que eu saiba a resposta.
Tinha uma garota em Portugal, a Mami, que volta e meia me mandava presentinhos, uns mimos muitíssimo fofos. Eu rolava de rir dos seus palavreados, das diferenças de linguagem... E a caligrafia? Muito redondinha, bem cuidada, um capricho total. Eu também não me fazia de rogada: caprichava na letrinha e no vocabulário. Saudades dela...
Tinha um rapaz da Bolívia. Depois de umas 2 dúzias de cartas ele cismou que eu deveria ir lá conhecer a família e a cidade dele. Era só eu ir até a fronteira que ele me buscava, seriam apenas 2hs de viagem. Rsrsrs... 2 horas para ele, porque para mim eram umas 200hs... Bem ali de mineiro.
E o cara do Ceará? Tinha crise de ciúmes de tudo que eu escrevia. E eu nem era namorada dele! Um dia falei isso com ele e o tal falou em suicídio. Do alto da minha sabedoria de 15 anos eu disse: mas faz direito porque senão vai passar o resto da vida no hospital se arrependendo da burrice. Ele respondeu que então não se suicidaria, mas estava cortando relações comigo. Peguei o meu mais bonito papel de carta e escrevi bem no meio: ENTÃO TÁ.
Nossa, era tanta gente que nem me lembro... até entrei num clube de cartões postais só para conhecer mais gente. Era o Brasil inteiro chegando aqui em casa.
Mas o que me matava eram os erros de português. Arre! Isso me talhava o sangue! Dava vontade de ir lendo e marcando de vermelho os erros. E depois devolver a carta corrigida junto com a resposta...
Outra que me matava: a pessoa respondia a carta assim.
É, eu também acho.
Não sei, o que vc acha?
Não.
Como eu vou saber do que falei na carta que mandei semana passada??? Arre!
Ai saudosismo danado! Que carência literária!
Bjim!
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Oi!
ResponderExcluirNossa, lendo o seu post agora, nesse momento, achei que você estava descrevendo a minha adolecencia no mundo das cartas! Há anos, meu nome saiu na Revista Querida... depois foi cartas e mais cartas! Tenho 3 amizades até hoje dessas cartas que se foram, amizades sinceras, e hoje de carne e osso.
Saudade também tenho do papel e da caneta, não tem nada igual!
Beijão!
Ana
calcinhafrufru.blogspot.com